terça-feira, 16 de outubro de 2007

Uma guerra de milhões



As escolas afixam a lista de títulos e as famílias compra-os, geralmente ignorando o que está por detrás da escolha de um manual escolar. A saber: uma sofisticada máquina de fazer livros capaz de motivar os professores a adoptá-los e um Ministério da Educação ausente da avaliação. Finalmente o governo aprova a lei de certificação dos manuais e cria "comissões de peritos" para os aprovar. De "aplaudir", dizem uns, "um processo rígido e centralista", acusam outros. Benefícios para os alunos? Só a prática o confirmará.



Pense em 1,6 milhões de alunos, multiplique-os pelo número de disciplinas correspondente a cada nível de ensino e o resultado dá dez milhões de manuais escolares postos à venda este ano. Dez milhões. Ainda que esteja por fora das dificuldades do negócio livreiro em Portugal, não é difícil perceber que não há livro (ou leitores) que chegue aos calcanhares do consumidor escolar. Avaliado em oitenta milhões de euros, o mercado do livro escolar é o maior do sector livreiro, estando agora concentrado em dois grandes grupos. A liderar, a Porto Editora com quase sessenta por cento da quota do mercado e que detém ainda a Areal Editores, a Lisboa Editora e outras chancelas de menor expressão. É a maior editora escolar portuguesa, o que, como já se viu, significa também que é a maior editora de Portugal. Ainda que no último ano tenhamos assistido a uma reconversão do sector com a recém-chegada ao mercado escolar de Pais de Amaral, antigo patrão da TVI que comprou a Texto Editora (a segunda maior do ramo), a Plátano/Didáctica e estejam ainda a decorrer negociações para lhes somar a parte escolar da Asa (era a terceira maior) e ainda a Gailivro, também esta muito bem implantada junto do primeiro ciclo, somará o novo grupo cerca trinta por cento da quota, ainda longe do volume da facturação da Porto Editora. Com crescente expressão no mercado nacional aparece ainda a espanhola Santilla (do grupo Prisa) com seis por cento da quota, segundo os números estimativos, já que o sector editorial há muito que padece da doença de falta de estatísticas oficiais, por antigas desavenças internas.
Se para quem negoceia com livros este é o sector onde é maior a expectativa de chegar a um realmente grande número de compradores, de acordo com os seus promotores é também aquele que implica maiores custos de produção, obrigando a constantes investimentos na formação dos autores e demorando cerca de um ano e meio na produção. Sui generis igualmente é a forma como estes livros podem chegar aos seus clientes. Ao contrário dos outros que ficarão disponíveis em livraria, aqui o teste faz-se de uma só vez, numa única época do ano e em cima da mesa do professor.
As editoras enviam as suas "amostras" para milhares de professores de cada disciplina e esperam para saber quantas escolas os adoptaram. Evidentemente que o know how lhes permite apresentar manuais à partida vencedores e adaptados às variações das diferentes comunidades e projectos escolares. Mesmo assim, é um processo de produção moroso e de promoção elaborada e dispendiosa para o qual só grandes estruturas editoriais estão habilitados, deixando cada vez mais as editoras menores longe da capacidade de concorrência.

Sem comentários: