quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pensamentos indigentes

É notória a dificuldade que este homem tem para se integrar no "seu" mundo, aquele onde lhe coube viver mas de onde desertaria se lhe dessem hipóteses de viver a utopia. O intelectual , de esguelha, olha de soslaio para o mundo que o rodeia e desconfia, desconfia sempre. A leitura radical, a descida ao espirito humano, o estudo dos pensamentos mais geniais e o contacto de perto com a loucura num limite que não tem avisos , fazem dele um desenquadrado do território que habita, um excêntrico capaz de ideias e do verbo mais sofisticado. Por outro lado escorrega facilmente no poio verbal só pelo sonho de ir mais além, voar talvez até onde nem a "fricção" cientifica de TV chegou. O intelectual, de esguelha, aprecia-se a si e aos que seguem o seu intelecto pelo caminho corporativo da criação em grupo. A elite que o rodeia, que o adula, que lhe aquece o ego, é a sua salvação. Não há dois intelectuais iguais, daí a dificuldade em ser preciso na caracterização desta espécie. Porém há coisas que os unem. Todos eles estão fartos de um mundo que não os ouve, que não os leva a sério, ou então que os teme. Todos eles estão fartos da mediocridade, da hipocrisia, do utilitarismo, das cabeças apenas penteadas, do poder pelo poder, da palavra tornada lixo, do desperdício económico, do vazio feito luxo em papel timbrado.

O intelectual, continua de esguelha, o mundo não muda por ele gritar palavras, torcer os olhos, ou ficar louco. Mas ele insiste em não desistir de mudar os outros , arrancar-lhes com um soco nas entranhas um vómito em forma de espasmo intelectual. São estes socos, que despertam mentes inertes, preguiçosas, num mundo do pronto a comer, pronto a dizer, pronto exclamar. Eis o cidadão comum repentinamente a pensar. O intelectual de esguelha, fica feliz , vê nos olhos do outro o seu próprio olhar de outros tempos, quando começou a "magicar". Este " paramédico da inteligência" insufla oxigénio em mentes presas de automatismos a que chamam normalidade. O intelectual grita, agoniza, recupera, assume personagens, é arrogante, vaidoso, mas ajuda toda a gente porque diz. Diz-nos algo e isso nos tempos que correm , e apesar de esguelha, é uma virtude. O intelectual, mesmo de esguelha, lembra-nos continuamente que o homem é mais fruto do sonho do que da mera necessidade. Um peido surge porque sim, a palavra surge porque queremos.