Tenhamos ou não a consciência disso, todos nós somos uns paranormais de trazer por casa. Sem a capacidade de adivinhar os pensamentos e sentimentos dos outros, não poderíamos resolver as mais simples situações sociais. Ou alcançar verdadeira intimidade com outra pessoa.
Organização (Ler a mente tornou-se uma ferramenta através da qual se cria e mantém a ordem social, dizem os especialistas)
Quando um bebé chora muitas horas depois de ter bebido o último biberão, a mãe sabe precisamente o que ele está a sentir: fome. Mas suponha que os olhos de uma mulher se enchem de lágrimas enquanto vê um filme na televisão. O marido afunda-se no sofá: o que a terá perturbado tanto? A mulher pode dizer-lhe directamente: "Este filme é tão trágico. É sobre um amor arruinado." E talvez seja verdade. Mas também pode estar a pensar em como a história lhe faz lembrar os seus próprios problemas conjugais. Talvez esteja a sentir-se magoada porque pensa que o seu marido devia perceber o que está a perturbá-la a reconhecer isso. Ou talvez nem tenha consciência de que são as suas preocupações reais que intensificam a sua reacção ao casal do ecrã.
Depressa e de forma quase automática, o marido percorre os seus ficheiros mentais - o historial de relacionamentos da mulher, a sua reacção à discussão que tiveram de manhã, a maneira como ela tipicamente reage a filmes parecidos. Nota o particular estremecimento da voz dela, observa a maneira como se enrola no sofá, detecta as expressões que atravessam o seu rosto. Retira informação de todos estes canais, filtra-se através dos seus próprios desejos e preconceitos... até que finalmente percebe tudo: ela sabe da sua amante!
Todos os dias, estejamos nós a lutar por um aumento de ordenado, a discutir com os filhos por causa dos trabalhos de casa ou a tentar perceber se a nossa melhor amiga gosta ou não da nova decoração da nossa casa, o que fazemos é ler os pensamentos uns dos outros. Através das nossas observações, da nossa base de dados da memória, das nossas capacidades de raciocínio e dos nossos mananciais de emoção, fazemos constantemente leituras educadas sobre o que a outra pessoa está a sentir ou a pensar. Durante as disputas mais acaloradas ou as conversas mais joviais, estamos sempre a recolher pistas sobre o que é que naquele momento se está a passar na cabeça do outro. " É uma capacidade perceptiva a que chamo visão da mente", diz Daniel Siegel, psiquiatra da UCLA e autor do livro The Mindfuk Brain: "Ela permite que o nosso cérebro crie um mapa do estado interior da outra pessoa.”
Este tipo de leitura do pensamento - que não deve ser confundido com o poder infalível da telepatia própria dos super-heróis - é uma capacidade crítica humana. É a forma através da qual damos sentido ao comportamento das outras pessoas e decidimos a nossa próxima jogada. A leitura da mente permite-nos negociar, competir, cooperar e ganhar intimidade com os outros. Permite-nos perceber quando estamos a ser manipulados ou seduzidos. É através dela que percebemos se alguém acha as nossas graças hilariantes ou ri apenas por delicadeza. A capacidade de ler o pensamento é talvez o elemento mais importante da inteligência social.
A falta de jeito para ler pensamentos pode ter consequências sérias: pode criar mal-entendidos que depois podem provocar conflitos. Pode fazer-nos sentir sozinhos num relacionamento. E pode mesmo levar à violência: os maridos violentos tipicamente - e erradamente - atribuem pensamentos críticos às suas mulheres; por isso é que agridem. A dificuldade em adivinhar os pensamentos e sentimentos dos outros caracteriza o autismo e é uma das razões para que as competências sociais dos que dele sofrem sejam disfuncionais.Décadas de pesquisa na leitura da mente (ou, como lhe chamam os psicólogos, compreensão empática) revelam agora como ela funciona, quem é mais dotado e como é que podemos melhorar a nossa aptidão para adivinhar os pensamentos dos outros - mesmo quando os nossos interlocutores não conhecem bem as suas próprias mentes. Os pensamentos e sentimentos dos outros, incluindo os mais próximos, estão longe de ser transparentes; isso faz da leitura da mente a única forma de conhecer alguém mais profundamente. A única maneira de ganhar verdadeira intimidade com alguém. E a única maneira de amar alguém pelo que realmente é.
A grande desilusão
É espantoso que possamos espreitar as mentes uns dos outros, mas a verdade é que não somos especialistas no assunto. Estranhos (que foram filmados e mais tarde relataram os seus pensamentos e sentimentos segundo a segundo, assim como as suas considerações sobre os pensamentos e sentimentos dos seus companheiros) lêem os pensamentos uns dos outros com uma taxa de precisão de vinte por cento. Amigos íntimos e casais fazem subir a percentagem para 35. E "quase ninguém fica acima dos sessenta por cento", relata o psicólogo William Ickes, da Univerdidade do Texas, o pai da "compreensão empática".A nossa (limitada) aptidão para ler os pensamentos tem raízes antigas, diz Ross Buck, professor de Ciências da Comunicação na Universidade de Connecticut. Durante milhares de anos de evolução, os sistemas humanos de comunicação tornaram-se mais sofisticados, assim como as condições de vida e de trabalho se tornaram mais complexas. Ler a mente tornou-se uma ferramenta através da qual se "cria e mantém a ordem social", postula Buck. Ajuda a saber quando assumir um compromisso com o companheiro ou quando recusar uma disputa com o vizinho.Claro que, em nome dos nossos próprios interesses, por vezes ainda precisamos de ocultar dos outros os nossos sentimentos, e até de mentir. "Nem sempre queremos mostrar exactamente aquilo que estamos a pensar porque outros podem usá-lo a seu favor e contra nós", diz Buck. Então, a nossa relativa visão da mente pode ser encarada como um produto do "esforço de guerra" entre a necessidade de mostrar e a de esconder o nosso verdadeiro eu. Este equilíbrio delicado entre perceber e dissimular tem servido bem o ser humano durante a sua já longa história , mas Siegel preocupa-se com o facto de a aptidão para ler os pensamentos alheios estar agora em declínio na nossa cultura. Os pais "obcecados-com-o-desempenho" dos dias de hoje perdem tanto tempo a estimular as suas crianças com actividades estruturadas, brinquedos barulhentos e DVD do Baby Einstein, que não se sentam para "estar" com os filhos, para serem "presentes". Como resultado, negam às crianças a oportunidade de aprender como entrar em sintonia com outra pessoa, física e emocionalmente - ou seja, para desenvolver a aptidão para ler as mentes alheias. Um grau razoável desta aptidão é necessário, diz o especialista, para uma sociedade civil em que os adultos são simpáticos uns com os outros.
Os sete lados de um sexto sentido
Se a quotidiana leitura da mente é um sexto sentido, é um sentido muito complicado que se apoia em todos os outros sentidos e explora completamente as nossas aptidões cognitivas e perceptivas. Para principiantes: quando estamos a tentar entrar dentro da cabeça de alguém, compreendemos o sentido das palavras que estão a ser ditas, monitorizamos expressões faciais e linguagem corporal e registamos o tom de voz e a cadência do discurso. Nem todos os momentos de leitura da mente se desenrolam da mesma maneira. Há pontos de viragem, momentos em que a interacção muda de cor e de tom. Um ponto de viragem pode seguir-se a um silêncio estranho ou à entrada de outra pessoa na discussão, explica Sara Hodges, professora de Psicologia na Universidade de Oregon. Não temos de perscrutar minuciosamente todos os pensamentos e emoções do nosso companheiro, mas é melhor avaliar bem estes momentos, porque eles carregam mais significado. "Se está a ler alguém com enorme exactidão, mas depois falha o ponto em que ele deixa de rir consigo e começa a sentir-se gozado de uma maneira magoada, ou falha o momento em que uma conversa leve se torna séria, então todos os outros dados exactos podem ter ido pelos ares, e isso vai revelar que afinal não é empaticamente certeiro."Saber ler a linguagem corporal é uma componente-chave da leitura da mente. Pode relevar as mais básicas emoções de uma pessoa. Os investigadores mostraram que, ao verem movimentos corporais reduzidos a pontos de luz num ecrã, os observadores conseguem ainda ler tristeza, raiva, alegria, nojo, medo e amor romântico. Somos peritos em ler emoções nos movimentos - mesmo quando há muito pouco por onde pegar. As expressões faciais também são pistas que usamos para saber o que é que os outros estão a pensar. Apesar das três mil expressões diferentes que podemos exibir por dia, são as micro expressões passageiras que traem muitos sentimentos. Infelizmente, a vasta maioria de nós é terrível a detectá-las. Ainda assim, tendemos a focar-nos nos olhos dos outros, e isso ajuda-nos. Os muitos músculos que os rodeiam fazem dos olhos uma fonte de pistas mais rica do que outras partes do rosto: baixos na tristeza, muito abertos no susto, fixos no ciúme, não focados no sonho ou inquietos na impaciência. Sabemos ainda mais sobre a mente de alguém pela maneira como os vários componentes da conversa se conjugam - as palavras, gestos e tom de voz de alguém tanto podem parecer coerentes como incongruentes. Mas apesar de tudo o que retiramos da linguagem corporal e do tom de voz, segundo Ickes, é o conteúdo do discurso que contribui mais para o nosso sucesso em ler pensamentos. As palavras importam.
Agora todos juntos
Há ainda um outro nível mais profundo em que a leitura da mente acontece. As emoções são em certo sentido contagiosas, e podemos sentir o que se passa na cabeça das outras pessoas "apanhando" o que os nossos companheiros de conversa estão a sentir. Há muito tempo que os psicólogos sabem que tendemos a convergir emocionalmente com os outros à medida que falamos com eles; sem termos consciência disso, copiamo-los, alteramos a nossa fisiologia de fora para dentro. Como o método do actor que se "torna" a sua personagem, começamos a "sentir" o que a outra pessoa está a sentir. Quando mimetizamos o comportamento, discurso, ritmos, gestos, expressões e atitudes físicas de outra pessoa, também ganhamos uma percepção directa dos seus sentimentos e atitudes psicológicas, demonstram os estudos. Apesar de os sorrisos se espalharem facilmente, as emoções negativas são mais contagiosas do que as positivas, em geral, provavelmente porque os nossos cérebros são especialmente sensíveis à informação negativa. E ser contagiado pela ansiedade ou medo de outra pessoa faz disparar a nossa resposta "luta-ou-foge" que nos acelera os batimentos cardíacos e a tensão arterial. As pesquisas demonstram que os que são mais susceptíveis ao contágio emocional são melhores a ler os pensamentos e sentimentos. A leitura da mente não é um processo de sentido único, é uma interacção dinâmica, e isto acrescenta um grau adicional de complexidade. Siegel concebe a visão da mente como tendo início na consciência do nosso próprio corpo e estado interior. Quando maior for o nosso autoconhecimento, mais facilmente reconheceremos, por exemplo, que estamos subitamente tensos. Podemos atribuir isso ao nosso interlocutor: "A Maria deve estar com o trabalho pelos cabelos." E talvez estejamos certos. Se começarmos a confortá-la antes de ela dizer que está preocupada com a sua carreira, vamos surgir como um amigo atento e cuidadoso. Mas podemos estar errados. A Maria pode estar bem e a tensão que sentimos foi uma armadilha da nossa imaginação. "Digamos que cresceu numa família em que a raiva não era bem resolvida", observa Siegel, "os seus mecanismos internos enchem a sua visão da mentem", diz ele. Todos os nossos preconceitos pessoais, estereótipos e distorções da memória afectam a nossa visão da mente. Podemos ler segundos sentidos em afirmações honestas se tivermos uma visão do mundo desconfiada. Ou podemos ver boas intenções em más acções se a nossa opinião sobre as outras pessoas for mais optimista. Uma vez que há correlação entre ter um bom mapa do próprio estado mental e desenhar mapas exactos das outras pessoas, Siegel acredita que a atenção - que pode ser melhorada com práticas como a meditação - pode "estabilizar as lentes da visão da mente. Ajuda-o a ver o seu mundo interior com maior clareza. Assim pode olhar para o seu maior autoconhecimento como material para produzir conclusões empáticas". A capacidade de percebermos os nossos próprios sentimentos e interpretarmos todas as pistas que o nosso interlocutor nos dá qualifica-nos para passos verdadeiramente avançados de leitura da mente: identificar pensamentos de que nem a pessoa que os produz tem consciência. "A aptidão que distingue a ovelha das cabras é a aptidão discernir um pensamento ou sentimento que a outra pessoa ainda não reconheceu", diz Hodges: " Não estão a mentir nem a ocultar as suas emoções, estão ainda a decifrá-las e classificá-las. E você pode ajudar nisso." Os que conseguem fazer isto são os amigos mais valiosos, que conseguem levar os outros a perceberem-se melhor. Mas devem conduzi-los suavemente, avisa Hodges. Um comentário como "parece que estás um pouco triste com isto - tenho razão?" será mais bem aceite do que um presunçoso "eu sei o que estás a sentir".
Primeiros passos
A aptidão para ler os pensamentos começam no nascimento: os recém-nascidos preferem os rostos a quaisquer outros estímulos, e bebés de semanas conseguem imitar expressões faciais. Aos dois meses, as crianças percebem e respondem aos estados emocionais dos seus cuidadores; com um ano, "as crianças aprendem com as expressões dos adultos e usam-nas para a conduzir o seu comportamento", afirma Nancy Eisenberg, professora de Psicologia na Universidade do Arizona e especialistas em desenvolvimento emocional. Aos dois, conseguem deduzir os desejos dos outros pela direcção do seu olhar; aos três, conseguem catalogar expressões faciais como contente, triste ou zangado. Aos cinco, os miúdos adquiriram uma aptidão rudimentar para ler as mentes alheias, possuem uma "teoria da mente". Percebem que as outras pessoas têm pensamentos, sentimentos e crenças diferentes dos seus. As crianças afinam a sua habilidade para ler pensamentos "espreitando" a conversa dos adultos, através da qual distinguem as complexidades das regras sociais e das interacções. Brincar com os pares fornece oportunidades de praticar a leitura das mentes das outras crianças, preparação necessária para saber o que se passa na cabeça dos adultos. Tais aptidões crescem naturalmente no curso normal do desenvolvimento. Mas podem ser mais fracas nos adolescentes maltratados ou negligenciados. Crianças oriundas de lares violentos, por exemplo, podem ser demasiados sensíveis a expressões de raiva, vendo este sentimento onde ele não existe, crianças severamente excluídas, como as que cresceram em instituições, podem ser desprovidas da capacidade de identificar com clareza quaisquer emoções. O nível sofisticado de leitura da mente, do "eu sei que tu sabes que eu sei" só aparece no fim da adolescência. Isto porque a aptidão para ficar as perspectivas subjectivas de uma série de pessoas ao mesmo tempo - e integrar a sua visão do mundo e da pessoa em particular que tem à sua frente - muitas vezes exige um cérebro completamente desenvolvido. O narcisismo natural dos adolescentes pode levá-los a interpretar os pensamentos e sentimentos dos outros da forma mais egocêntrica possível: quando uma mãe entra em pânico porque a filha chega uns minutos depois da hora marcada, esta provavelmente vai pensar "lá está a mãe a querer controlar -me" em lugar do mais acertado " a mãe está aborrecida estava preocupada comigo".
Surpresa!
Ickes está empenhado em deitar por terra um dos mais antigos mitos sobre a leitura da mente - que as mulheres têm uma intuição mais apurada, que são elas as verdadeiras detentoras do "sexto sentido". Com uma colega da Universidade Texas, Tiffany Graham, descobriu que não há "qualquer prova" de que as mulheres leiam melhor os pensamentos do que os homens. Então a que se deve a persistência deste esteriótipo de género? "Pode não ser uma diferença de aptidão, mas uma diferença de motivação", diz Ickes, "na vida do dia-a-dia, as mulheres parecem ser mais facilmente motivadas para se esforçarem para perceber o que a outra pessoa está a pensar ou a sentir." A sustentar tal interpretação está um estudo no qual os investigadores ofereceram dinheiro aos participantes que lessem com maior exactidão os pensamentos dos outros. Os pagamentos "limparam qualquer diferença entre os desempenhos deles e delas", sugerindo que, quando querem, os homens conseguem ler a mente tão bem como as mulheres. Nem sempre querem é fazê-lo. O papel da motivação numa correcta leitura da mente ajuda a explicar outra descoberta contra-intuitiva: os maridos e mulheres recém-casados são muito bons em sentir os estados espíritos um do outro. Mas quando esperamos que melhorem as suas capacidades, porque se conhecem mais intimamente, vemos que a compreensão empática diminui depois do primeiro ano de casamento. Porque é que os que se conhecem melhor hão-de perceber-se pior? "Tornam-se confiantes de que sabem tudo sobre o outro e menos motivados em esforçar-se para lerem os pensamentos um do outro", sugere Ickes. A falta de motivação pode afectar a dinâmica matrimonial. Dados sociológicos demonstram que a satisfação matrimonial também diminui um ano depois. "Não interessa há quanto tempo está casado ou é amigo de uma pessoa", observa Ickes, "assumir que se sabe o que o outro está a pensar mata a capacidade de ler a mente." A pesquisa oferece mais surpresas. Poderia pensar-se que os que obtêm melhores resultados nos testes de sensibilidade seriam os melhores leitores da mente. Mas não. Nem sempre os ouvintes profissionais: os psicoterapeutas não mostram maior exactidão do que os pacientes para tirar conclusões baseadas nas expressões faciais; mas são mais certeiros quando se trata de tirar conclusões baseadas na linguagem. E experiências partilhadas não nos ajudam a entrar na cabeça das outras pessoas - uma surpresa para os milhões de pessoas que participam um grupos de apoio.
O que ajuda também pode magoar
Educação avançada, grau de inteligência elevado, mente aberta e boa saúde mental aumentam a compreensão empática. Toda a gente tem melhores resultados quando lê os pensamentos de pessoas que conhecem - os que estão acima da média a desvendar estranhos também são muito bons a ler os que estão no seu círculo de amigos. Há pessoas mais fáceis de decifrar. Falam mais e usam mais gestos, fornecendo um mapa dos seus pensamentos e sentimentos. A capacidade de leitura da mente que ajuda a ser um amigo compreensivo ou um companheiro solidário também pode ser usada para atingir onde dói mais. Pense num casal que está junto há muitos anos e que se atormenta mutuamente graças ao conhecimento íntimo: ele sabe que ela está a pensar no irmão que morreu há muito e ironiza acerca de como ela nunca cuidou dos seus laços familiares; ela sentir que ele está a pensar nos seus fracassos profissionais e confirma que ele de facto estragou sempre todos os negócios em que se meteu. Em qualquer relação, a arte de ler a mente exige saber quando "atacar" e quando deixar a "presa" sozinha, estratégia que reclama uma virtude caída em desus: a discrição. Ickes chama-lhe "gerir" a compreensão empática. " Os casais que cultivam a discrição sabem quando entrar na cabeça do outro e quando ficar de fora", diz ele. Isto significa deixar o seu parceiro chegar-se a si, em vez de o invadir e complementar as suas frases. Também significa não reagir exageradamente a pensamentos que decifrou e que são ameaçadores para si, mas passageiros: o seu namorado pode gostar de ver aquela actriz sensual no grande ecrã, mas é a sua mão que ele está a segurar no escurinho do cinema. Felizmente, temos mais do que uma hipótese de perceber alguém correctamente. Um leitor da mente sábio afina continuamente as suas assunções iniciais acerca do que a outra pessoa sente. " O bom amigo não é aquele que percebe imediatamente - é o que se preocupa em continuar a tentar perceber", diz Hodges, "tem sempre hipótese de adivinhar o que o outro está a sentir ou a pensar." Estar em sintonia com o outro pode ser uma esperiência transcendente. Conhecer o outro e ser conhecido por ele, diz Siegel "é o coração das relações empáticas".
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
sábado, 1 de dezembro de 2007
Mais de 32 mil casos de HIV/sida notificados em Portugal
Mais de 32 mil casos de HIV/sida estavam notificados em Portugal até Setembro, quase metade em pessoas sem sintomas, segundo dados apresentados por especialistas quando se assinala o Dia Mundial de Luta Contra a Sida."Stop à Sida" é, este ano, o mote para chamar a atenção para a doença, que mata quatro pessoas em cada minuto, ou mais de 5700 por dia, segundo a ONUsida.Publicadas em Novembro, as últimas estimativas daquela agência das Nações Unidas assinalam cerca de 6800 novas contaminações por dia.No mundo, cerca de 33,2 milhões de pessoas são seropositivas ou doentes de sida, sendo que, por dia, aproximadamente 1200 crianças com menos de 15 anos são infectadas pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana).Segundo o mais recente relatório anual do Programa das Nações Unidas sobre a doença, o número de casos notificados torna Portugal o quarto país da Europa Ocidental com mais casos de infecções pelo vírus diagnosticados no ano passado.Entre as 32.205 pessoas com HIV registadas em Portugal, 43,8 por cento já apresentavam sida, o que representa um total acumulado de 14.110 até ao final de Setembro.Ser seropositivo ao HIV (vírus da imunodeficiência humana) não significa necessariamente ter sida, uma vez que a doença só é definida quando existe a presença do vírus em conjugação com uma doença infecciosa (como a tuberculose ou pneumonia) ou com um tumor.Em relação aos cerca de 18 mil casos notificados de HIV em pessoas que não tinham evoluído ainda para a sida, a esmagadora maioria dos infectados não apresentava qualquer sintoma, segundo Elizabeth Pádua, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.A especialista sublinhou que se tem acentuado a tendência para um aumento de casos de sida no grupo dos heterossexuais, o que tem sido particularmente evidente nas mulheres.Uma das explicações avançadas para Portugal ser um dos países da Europa Ocidental com maior número de notificações é, segundo o especialista em medicina interna, a falha na prevenção, que existe muito graças à escassez de campanhas.O número de notificações poderá aumentar com um novo sistema, em vigor este ano, que prevê que o Ministério da Saúde pague anualmente às instituições de saúde por cada doente que inicia o programa de tratamento ao HIV. Isto porque o HIV/sida já é uma doença de declaração obrigatória em Portugal, mas estima-se que haja uma sub-notificação dos casos, que poderá ser revertida com este programa de pagamento, uma vez que para receberem o dinheiro do Ministério da Saúde os hospitais têm obrigatoriamente de notificar os doentes que entram em programas de tratamento.Mais de 32 mil casos de HIV/sida estavam notificados em Portugal até Setembro, quase metade em pessoas sem sintomas, segundo dados apresentados por especialistas quando se assinala o Dia Mundial de Luta Contra a Sida."Stop à Sida" é, este ano, o mote para chamar a atenção para a doença, que mata quatro pessoas em cada minuto, ou mais de 5700 por dia, segundo a ONUsida.Publicadas em Novembro, as últimas estimativas daquela agência das Nações Unidas assinalam cerca de 6800 novas contaminações por dia.No mundo, cerca de 33,2 milhões de pessoas são seropositivas ou doentes de sida, sendo que, por dia, aproximadamente 1200 crianças com menos de 15 anos são infectadas pelo HIV (vírus da imunodeficiência humana).Segundo o mais recente relatório anual do Programa das Nações Unidas sobre a doença, o número de casos notificados torna Portugal o quarto país da Europa Ocidental com mais casos de infecções pelo vírus diagnosticados no ano passado.Entre as 32.205 pessoas com HIV registadas em Portugal, 43,8 por cento já apresentavam sida, o que representa um total acumulado de 14.110 até ao final de Setembro.Ser seropositivo ao HIV (vírus da imunodeficiência humana) não significa necessariamente ter sida, uma vez que a doença só é definida quando existe a presença do vírus em conjugação com uma doença infecciosa (como a tuberculose ou pneumonia) ou com um tumor.Em relação aos cerca de 18 mil casos notificados de HIV em pessoas que não tinham evoluído ainda para a sida, a esmagadora maioria dos infectados não apresentava qualquer sintoma, segundo Elizabeth Pádua, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.A especialista sublinhou que se tem acentuado a tendência para um aumento de casos de sida no grupo dos heterossexuais, o que tem sido particularmente evidente nas mulheres.Uma das explicações avançadas para Portugal ser um dos países da Europa Ocidental com maior número de notificações é, segundo o especialista em medicina interna, a falha na prevenção, que existe muito graças à escassez de campanhas.O número de notificações poderá aumentar com um novo sistema, em vigor este ano, que prevê que o Ministério da Saúde pague anualmente às instituições de saúde por cada doente que inicia o programa de tratamento ao HIV. Isto porque o HIV/sida já é uma doença de declaração obrigatória em Portugal, mas estima-se que haja uma sub-notificação dos casos, que poderá ser revertida com este programa de pagamento, uma vez que para receberem o dinheiro do Ministério da Saúde os hospitais têm obrigatoriamente de notificar os doentes que entram em programas de tratamento.
Cirque de Soleil
A célebre companhia canadiana de novo circo está em Portugal até domingo com Delirium. Cabe lá quase tudo: artes acrobáticas, música, dança e inovações multimédia.
Um homem sobre andas vai pontuando o espectáculo com momentos cómicos. Uma contorcionista maximiza a flexibilidade do corpo. Aqui, não há movimentos impossíveis. O espectáculo de Lisboa tem 36 artistas: seis músicos, 12 bailarinos, seis cantores, nove acrobatas e três actores. A companhia tem quase quatro mil funcionários de 40 nacionalidades. Neste momento, há espectáculos em nove países. A acrobacia funde-se na cor, no ritmo dos corpos e nas técnicas audiovisuais. Faz-nos sentir pequenos perante a grandeza do universo, marionetas com vontade, e questiona-nos sobre a génese da vida humana e as suas transformações. Entram em cena personagens retiradas de um mundo psicadélico. Para a música não há fronteiras. Conhecido pela sua faceta multicultural, o Cirque du Soleil mistura os sons do mundo. Desejo é o nome da canção entoada em português que fez vibrar a plateia com o som entusiasta do samba brasileiro. E há um vulcão. Há vida no palco. A dança alia-se ao ritmo e o ritmo ao corpo. Dois bailarinos executam uma fusão de dança tribal e luta marcial, a Capoeira. A imaginação está suspensa no espaço e o mundo dá voltas. 49 mil pessoas vão ver, em Lisboa, este homem pendurado num balão, que procura quem é e de onde vem. Uma sereia voadora inebria-lhe os sentidos e a música ecoa pelo Pavilhão Atlântico, fascinando a audiência. Não há lógica. Essa pertence ao sonho. Há um sentido de equilíbrio em cada movimento do corpo. Cada músculo obedece a uma ordem prévia e não há espaço para a indecisão. Há um sentido de estética elaborado, uma coordenação imprescindível para que tudo resulte na perfeição. É um paralelismo à organização metódica do universo. Os astros alinham-se nas suas órbitas e os homens submetem-se a um entendimento recíproco.
Em breve seremos capazes de ler pensamentos
As ideias nascem num hemisfério do cérebro e, depois, são transformadas em discurso no outro. Graças aos dois compartimentos de massa cinzenta que temos dentro da cabeça, somos diferentes dos chimpanzés. E, precisamente porque pensamos, já estamos próximos de compreender o berço do pensamento, sugere o investigador britânico.
Tim Crow é polémico, mas defende as suas ideias com uma calma e clareza que impressionam. Conversamos com o psiquiatra inglês no Centro de Estudos Portugueses do Instituto Camões em Oxford, em Inglaterra: ele fala num tom baixo e compassado, discorda da teoria evolucionista de Darwin como quem está a contar uma história às crianças. E fala sobre a possibilidade (cada vez "mais próxima") de "lermos" os pensamentos humanos como quem diz que quer lulas para o almoço. Talvez seja a sabedoria acumulada de quem nasceu em 1938, talvez seja a segurança de alguém que acredita piamente na sua teoria (já vamos falar da sua famosa tese sobre as origens genéticas do Homo sapiens, tema da conferência que apresentou ontem à noite no ciclo Crítica do Contemporâneo da Fundação de Serralves, no Porto). Não sabemos exactamente por que é que Tim Crow fala assim das suas convicções científicas, mas sabemos que o pensamento antecede o discurso. Mas conseguiremos algum dia aceder ao patamar invisível das ideias, construído algures no nosso cérebro? "Acredito que sim, creio que estamos próximos disso", afirma o investigador da Universidade de Oxford. Os pensamentos são, em última instância, um conjunto de impulsos eléctricos que atravessam as nossas células nervosas (os neurónios). Então por que é que ainda não conseguimos descodificá-los? Não podemos seguir esses pequeninos choques que viajam pelo cérebro? "Sim, mas só até um determinado ponto", diz Tim Crow. O autor de The Speciation of Modern Homo sapiens explica que a transformação do pensamento em palavras articuladas é um processo sofisticado que depende dos dois hemisférios cerebrais - e daí a dificuldade de seguir-lhes o rasto. Ideias num lado, fala noutro"O que eu considero interessante é a coexistência de quatro compartimentos do cérebro que permitem a transformação do pensamento em discurso. Cada compartimento tem uma função diferente, o pensamento e a fala estão associados mas ocupam lugares diferentes na nossa cabeça" esclarece Tim Crow, director honorário do Centro Internacional de Investigação em Esquizofrenia e Depressão Príncipe de Gales. É como se tivéssemos diferentes gavetinhas dentro do crânio: cada uma acomoda dados e processos diferentes, mas não são divisórias estanques. Os tais compartimentos comunicam-se, apesar de poderem estar na porta direita ou esquerda do guarda-fatos que é o cérebro. Chama-se a isto a lateralização das funções do cérebro, ou seja, a distribuição das actividades cerebrais pelos seus dois hemisférios, dois grandes gomos de massa cinzenta que estão em permanente contacto ou cooperação, embora sejam muito ciosos das suas próprias tarefas.Para já, conseguimos apenas observar o cérebro consciente a funcionar. E isto não é pouco. Os laboratórios de neurociências envidam cada vez mais esforços para compreender o que se passa dentro de um cérebro vivo e pensante, utilizando para o efeito diferentes técnicas - a análise dos padrões de actividade electromagnética no interior da cabeça, por exemplo, ou a menor ou maior afluência de sangue em zonas distintas dos tecidos nervosos. As tecnologias de imagiologia cerebral de última geração permitem mesmo o estudo de processos cerebrais que duram um milésimo de segundo! Os dois gomos do cérebro Parece estranho, mas a famosa teoria de Tim Crow envolve elementos aparentemente desconexos como a psicose e a evolução do homem moderno. O psiquiatra britânico propõe que a origem da maioria dos casos desta doença mental está associada à assimetria do cérebro, uma característica que também está especificamente ligada ao domínio humano da linguagem. Por outras palavras, a linguagem e a psicose teriam uma origem evolutiva comum: uma mutação genética que permitiu aos dois hemisférios cerebrais funcionar com algum grau de independência. Assim também nasce a frase mais citada do cientista: "A esquizofrenia é o preço que o Homo sapiens tem de pagar pela aquisição da linguagem.""O aparecimento da linguagem não foi gradual", garante o investigador, que põe assim por terra os dogmas darwinistas da selecção natural ao longo do tempo. Para Tim Crow, a capacidade do homem moderno dominar a linguagem foi fruto de um "acidente genético". Houve uma mutação (a translocação repetitiva do gene da protocaderina) há cerca de 150 mil anos e... tchanan! Um indivíduo do sexo masculino ganhou uma capacidade que nenhum outro tinha e, por isso mesmo, defende Crow, tornou-se um tipo mais interessante para as companheiras de caverna. Esta alteração foi sendo aprimorada à medida que as mulheres escolhiam os parceiros sexuais mais eloquentes, o que também permitiu a transmissão do erro genético localizado apenas no cromossoma masculino, o Y, para o cromossoma X. Então quer dizer que o homem começou a falar antes da mulher? "Sim, mas as mulheres são mais rápidas a apreender novas palavras", garante Tim Crow. Isso é o que ele sabe (e o que sabe comenta com tranquilidade, já sabemos) mas há infinitas coisas que ainda não descobriu - e são exactamente essas que fazem os seus olhos brilharem e a sua voz ganhar entusiasmo. "O ponto crucial é na mudança do X. Ainda não sabemos exactamente quando é que isto aconteceu", lamenta o investigador. Também ainda está por provar, por exemplo, que é o gene responsável pela expressão da protocaderina o responsável pela lateralização do cérebro. As ideias de Tim Crow são polémicas q.b. A teoria em voga é a de que a linguagem surgiu algures entre sete milhões de anos (quando partilhamos o último antepassado comum com os chimpanzés) e 150 mil anos (origem do Homo sapiens). Quando falamos de linguagem, referimo-nos a uma comunicação sintáctica, algo bem mais complexo do que o canto dos pássaros para avisar que um predador se aproxima. A incorporação da gramática terá sido a última (e mais decisiva) etapa no desenvolvimento da linguagem. Com ela, as palavras tornam-se legos que podem ser combinados das mais diversas formas para que possamos expressar as nossas ideias, sentimentos e projectos. E os homens, seja por uma teoria seja por outra, ganharam o dom de filosofar, criar modelos econométricos e até máquinas para ler os pensamentos alheios.
Tim Crow é polémico, mas defende as suas ideias com uma calma e clareza que impressionam. Conversamos com o psiquiatra inglês no Centro de Estudos Portugueses do Instituto Camões em Oxford, em Inglaterra: ele fala num tom baixo e compassado, discorda da teoria evolucionista de Darwin como quem está a contar uma história às crianças. E fala sobre a possibilidade (cada vez "mais próxima") de "lermos" os pensamentos humanos como quem diz que quer lulas para o almoço. Talvez seja a sabedoria acumulada de quem nasceu em 1938, talvez seja a segurança de alguém que acredita piamente na sua teoria (já vamos falar da sua famosa tese sobre as origens genéticas do Homo sapiens, tema da conferência que apresentou ontem à noite no ciclo Crítica do Contemporâneo da Fundação de Serralves, no Porto). Não sabemos exactamente por que é que Tim Crow fala assim das suas convicções científicas, mas sabemos que o pensamento antecede o discurso. Mas conseguiremos algum dia aceder ao patamar invisível das ideias, construído algures no nosso cérebro? "Acredito que sim, creio que estamos próximos disso", afirma o investigador da Universidade de Oxford. Os pensamentos são, em última instância, um conjunto de impulsos eléctricos que atravessam as nossas células nervosas (os neurónios). Então por que é que ainda não conseguimos descodificá-los? Não podemos seguir esses pequeninos choques que viajam pelo cérebro? "Sim, mas só até um determinado ponto", diz Tim Crow. O autor de The Speciation of Modern Homo sapiens explica que a transformação do pensamento em palavras articuladas é um processo sofisticado que depende dos dois hemisférios cerebrais - e daí a dificuldade de seguir-lhes o rasto. Ideias num lado, fala noutro"O que eu considero interessante é a coexistência de quatro compartimentos do cérebro que permitem a transformação do pensamento em discurso. Cada compartimento tem uma função diferente, o pensamento e a fala estão associados mas ocupam lugares diferentes na nossa cabeça" esclarece Tim Crow, director honorário do Centro Internacional de Investigação em Esquizofrenia e Depressão Príncipe de Gales. É como se tivéssemos diferentes gavetinhas dentro do crânio: cada uma acomoda dados e processos diferentes, mas não são divisórias estanques. Os tais compartimentos comunicam-se, apesar de poderem estar na porta direita ou esquerda do guarda-fatos que é o cérebro. Chama-se a isto a lateralização das funções do cérebro, ou seja, a distribuição das actividades cerebrais pelos seus dois hemisférios, dois grandes gomos de massa cinzenta que estão em permanente contacto ou cooperação, embora sejam muito ciosos das suas próprias tarefas.Para já, conseguimos apenas observar o cérebro consciente a funcionar. E isto não é pouco. Os laboratórios de neurociências envidam cada vez mais esforços para compreender o que se passa dentro de um cérebro vivo e pensante, utilizando para o efeito diferentes técnicas - a análise dos padrões de actividade electromagnética no interior da cabeça, por exemplo, ou a menor ou maior afluência de sangue em zonas distintas dos tecidos nervosos. As tecnologias de imagiologia cerebral de última geração permitem mesmo o estudo de processos cerebrais que duram um milésimo de segundo! Os dois gomos do cérebro Parece estranho, mas a famosa teoria de Tim Crow envolve elementos aparentemente desconexos como a psicose e a evolução do homem moderno. O psiquiatra britânico propõe que a origem da maioria dos casos desta doença mental está associada à assimetria do cérebro, uma característica que também está especificamente ligada ao domínio humano da linguagem. Por outras palavras, a linguagem e a psicose teriam uma origem evolutiva comum: uma mutação genética que permitiu aos dois hemisférios cerebrais funcionar com algum grau de independência. Assim também nasce a frase mais citada do cientista: "A esquizofrenia é o preço que o Homo sapiens tem de pagar pela aquisição da linguagem.""O aparecimento da linguagem não foi gradual", garante o investigador, que põe assim por terra os dogmas darwinistas da selecção natural ao longo do tempo. Para Tim Crow, a capacidade do homem moderno dominar a linguagem foi fruto de um "acidente genético". Houve uma mutação (a translocação repetitiva do gene da protocaderina) há cerca de 150 mil anos e... tchanan! Um indivíduo do sexo masculino ganhou uma capacidade que nenhum outro tinha e, por isso mesmo, defende Crow, tornou-se um tipo mais interessante para as companheiras de caverna. Esta alteração foi sendo aprimorada à medida que as mulheres escolhiam os parceiros sexuais mais eloquentes, o que também permitiu a transmissão do erro genético localizado apenas no cromossoma masculino, o Y, para o cromossoma X. Então quer dizer que o homem começou a falar antes da mulher? "Sim, mas as mulheres são mais rápidas a apreender novas palavras", garante Tim Crow. Isso é o que ele sabe (e o que sabe comenta com tranquilidade, já sabemos) mas há infinitas coisas que ainda não descobriu - e são exactamente essas que fazem os seus olhos brilharem e a sua voz ganhar entusiasmo. "O ponto crucial é na mudança do X. Ainda não sabemos exactamente quando é que isto aconteceu", lamenta o investigador. Também ainda está por provar, por exemplo, que é o gene responsável pela expressão da protocaderina o responsável pela lateralização do cérebro. As ideias de Tim Crow são polémicas q.b. A teoria em voga é a de que a linguagem surgiu algures entre sete milhões de anos (quando partilhamos o último antepassado comum com os chimpanzés) e 150 mil anos (origem do Homo sapiens). Quando falamos de linguagem, referimo-nos a uma comunicação sintáctica, algo bem mais complexo do que o canto dos pássaros para avisar que um predador se aproxima. A incorporação da gramática terá sido a última (e mais decisiva) etapa no desenvolvimento da linguagem. Com ela, as palavras tornam-se legos que podem ser combinados das mais diversas formas para que possamos expressar as nossas ideias, sentimentos e projectos. E os homens, seja por uma teoria seja por outra, ganharam o dom de filosofar, criar modelos econométricos e até máquinas para ler os pensamentos alheios.
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